Um estudo feito pelo IESS em janeiro deste ano trouxe algumas conclusões sobre o panorama da saúde mental no Brasil: constatou-se que de 2018 até 2022 o número de diagnósticos (CID ) contendo ansiedade mais que dobrou. Também os custos com procedimentos com psicoterapia aumentaram consideravelmente nos últimos cinco anos, passando de R$ 181 milhões em 2018 para R$ 269 milhões em 2022.
A ansiedade e a depressão são causas recorrentes de afastamento laboral e ambas se intensificaram em decorrência da pandemia do COVID-19.
Por mais que este tema esteja atual e naturalizado para muitos, senão todos, e muitas formas de lidar com a ansiedade já foram e estão sendo estudadas e divulgadas, ainda existe muita desinformação e burburinho em relação ao assunto.
Quero abordar um aspecto central em relação a isso no intuito de colaborar com aqueles que tem sofrido com a ansiedade;
Primeira coisa é entender que TODOS NÓS TEMOS ANSIEDADE.
A ansiedade é uma emoção normal. Ela nos ajuda a lidar com situações difíceis, desafiadoras ou perigosas. A ansiedade é comum. Há momentos em que todos nós nos sentimos ansiosos, preocupados, nervosos ou estressados. Ela é uma resposta fisiológica do nosso corpo para o nosso próprio bem, para a nossa própria sobrevivência. Portanto, não é possível deixar de ter ansiedade, pois quando isso acontecer, você já não estará mais vivo, porque não precisará mais dela. A ansiedade é necessária para viver.
Alguns pesquisadores definem a ansiedade como uma reação de emergência, chamando-a de luta-ou-fuga, porque ela serve para preparar o indivíduo para lutar ou para fugir de uma potencial situação de risco iminente. Em muitas situações de perigo, por exemplo, é necessário que ajamos rápido e imediatamente, por exemplo: seu filho está prestes à cair do sofá bem na sua frente. Muito prontamente você vai ao seu encontro para salvá-lo da queda, pois ele estava em perigo. Se a ansiedade não atuasse em nós como essa mola propulsora para agir imediatamente, você veria a criança caindo bem lentamente na sua frente e não teria nenhuma reação.
Do mesmo modo em um tiroteio, a ação mais comum é se proteger imediatamente por conta do instinto de sobrevivência. E ali estava atuando a ansiedade novamente.
Então paremos de condenar a ansiedade. Ela é boa e necessária para nós.
O grande mistério é aprender a equilibrar esse potencial de defesa que é a ansiedade, pois uma vez mal canalizado ou exagerado, gera transtornos para nós.
A ANSIEDADE É DESCONFORTÁVEL, MAS NÃO É PERIGOSA
Se temos ansiedade para a nossa sobrevivência, ela não pode ser ruim e nem querer o nosso mal ou nossa piora. Todos os processos fisiológicos gerados numa situação em que seja necessário uma resposta imediata vão acontecer em uma outra situação que nosso cérebro interprete como perigosa. Por exemplo, você tem uma apresentação de trabalho na faculdade e está apavorado com a avaliação do professor, isso vai deixar com que seu corpo e sua mente entendam que precisam ficar em estado de alerta para se defender e agir gerando sensações físicas desagradáveis até que a apresentação passe.
Hoje em dia muitas vezes não é necessário nem que a situação concreta aconteça – muitas pessoas sofrem com as preocupações improdutivas – ideias e pensamentos que atormentam a cabeça gerando muita ansiedade. Nesse caso, também o cérebro entende que aquilo é perigoso e você precisa de ajuda, de defesa. Então o corpo é acometido de uma descarga de sensações que não são e nem deveriam ser compatíveis com o que a situação representa.
Manejar a ansiedade em situações cotidianas e não perigosas na realidade é fundamental para lidar com esse problema.
A ANSIEDADE E SUAS ESPECIFICAÇÕES
Segundo o Manual de Diagnósticos Psiquiátricos (DSM-V) “os transtornos de ansiedade incluem transtornos que compartilham características de medo e ansiedade excessivos e perturbações comportamentais relacionados. Medo é a resposta emocional a ameaça iminente real ou percebida, enquanto ansiedade é a antecipação de ameaça futura”.
Embora os transtornos de ansiedade se apresentem com comorbidades (mais de um transtorno associados), podem ser diferenciados pelo exame detalhado dos tipos de situações que são temidos ou evitados e pelo conteúdo dos pensamentos ou crenças associados. Muitos dos transtornos de ansiedade se desenvolvem no período da infância e tendem a persistir se não forem tratados e a maioria deles ocorre com mais frequência em indivíduos do sexo feminino do que no masculino.
Atualmente os tipos de transtorno de ansiedade relatados pelo DSM- V são o transtorno de ansiedade de separação (F 93.0), Mutismo seletivo (F 94.0), Fobia específica, FOBIA SOCIAL (F 40.10), Transtorno de Pânico (F 41.0), Agorafobia (F 40.00), Transtorno de ansiedade generalizada (F 41.1), dentre outros.
O TRATAMENTO PARA ANSIEDADE
A terapia cognitivo-comportamental pode ajudar no tratamento para transtorno de ansiedade. Inúmeras pesquisas evidenciam seus resultados na melhora em diversos casos e situações. Juntamente com o acompanhamento psiquiátrico, quando necessário, sendo uma ótima ferramenta justamente porque com o foco no presente predominante traz algumas estratégias para o manejo da ansiedade colaborando com o paciente em diversos casos.
Fontes:
DELPINO, Felipe. JANEIRO BRANCO NA SAÚDE SUPLEMENTAR: PANORAMA DA SAÚDE MENTAL ENTRE BENEFICIÁRIOS DE PLANOS DE SAÚDE. IESS, São Paulo, 2024.
American Psychiatric Association. Diagnostic and Statistical Manual of Mental Disorders, 5th Edition, 2013.
RANGÉ, Bernard, P; BORBA, Angélica G. VENCENDO O PÂNICO: TERAPIA INTEGRATIVA PARA QUEM SOFRE E PARA QUEM TRATA O TRANSTORNO DE PÂNICO E A AGORAFOBIA. Cognitiva, Rio de Janeiro, 2008.